Fins que são (re)começos – Reflexões de uma psicóloga no encerramento do ano letivo
O final de um ano letivo traz sempre consigo um misto de emoções. Há um cansaço que se acumula, é certo, mas também um coração cheio de vivências, histórias, descobertas e conquistas partilhadas ao longo dos meses. Como psicóloga clínica e educacional, que acompanha de perto o quotidiano escolar de crianças do 1.º Ciclo e do Pré-Escolar, esta época do ano convida a uma pausa, não só para descanso, mas sobretudo para reflexão.
Este foi mais um ano de encontros profundos, de escuta ativa, de intervir com empatia, de estar presente nos momentos difíceis e de celebrar os pequenos e grandes progressos. Em cada corredor da escola ecoam despedidas e promessas de reencontro, mas também se sente o peso da transição – aquela que marca a mudança de ciclo, de espaço, de rotinas e de pessoas.
Os finalistas do 4.º ano despedem-se da sua "primeira casa escolar". Durante quatro anos, estas crianças aprenderam a ler, a escrever, a crescer. Fizeram amigos, enfrentaram desafios, descobriram medos e superaram-nos. Como psicóloga, tive o privilégio de acompanhar muitos deles em processos de desenvolvimento emocional, de lidar com a ansiedade, de construção de autoestima e de competências sociais. Foram inúmeras as conversas sobre a amizade, sobre o medo de errar, sobre a frustração, sobre a coragem de ser quem se é. Agora, seguem para o 2.º ciclo – um mundo novo, com novos professores, novas dinâmicas e exigências. E levo comigo o desejo de que cada um leve no coração a confiança que juntos fomos cultivando.

Mas não são só os que partem que marcam este tempo. Os finalistas do Pré-Escolar olham com a curiosidade que os caracteriza, perguntando-se sobre o que será que vem aí. Vão iniciar o 1.º ano, dando os primeiros passos na escolarização formal. Muitos ainda tropeçam nas palavras, mas são peritos em imaginação e perguntas difíceis. A sua entrada no 1.º Ciclo é uma porta que se abre para um universo de aprendizagens, de regras novas, de novas relações. Com eles trabalhei a expressão emocional, o reconhecimento das emoções nos outros, as primeiras estratégias para lidar com frustrações e mudanças. Preparei-os, dentro do possível, para um mundo mais estruturado, sem apagar a criatividade que os torna únicos.
Enquanto psicóloga, o meu trabalho vai muito além do gabinete. Está nas salas de aula, nos recreios, nas reuniões com professores e com famílias. Está no olhar atento, na escuta sem pressa, no apoio à regulação emocional, na promoção do bem-estar psicológico em cada pequena interação. No fim deste ano, vejo rostos mais seguros, crianças mais conscientes de si e dos outros, e isso é a mais bonita recompensa.
Encerrar um ano letivo é, também para mim, fazer uma despedida simbólica. É guardar na memória os rostos, as gargalhadas, as conversas e até as lágrimas partilhadas. É reconhecer que o trabalho da psicologia escolar tem um impacto silencioso, mas profundo. E é sobretudo confiar que, mesmo nas incertezas das transições, as sementes lançadas ao longo do ano continuam a crescer.
Desejo a todos os finalistas – pequenos grandes viajantes – que esta nova etapa seja feita com coragem, curiosidade e serenidade. Que encontrem pelo caminho quem os inspire, que se sintam seguros para continuar a ser e a crescer.
E a nós, que ficamos por mais um ano, que nunca percamos a capacidade de nos emocionar com cada história, com cada mudança, com cada reencontro.
Porque no fundo, é isso que faz da escola – e da psicologia – um lugar de esperança.